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Nova classe trabalhadora expressa insatisfação com governo Lula, avalia cientista político

Alinhamento com a base pobre persiste, mas desafios surgem com classes ascendentes

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) continua a manter um forte alinhamento com a parcela mais pobre da população brasileira, um segmento cuja renda familiar mensal não ultrapassa dois salários mínimos. Essa base, que ainda constitui a maioría dos apoiadores do governo petista, reflete a persistência do fenômeno denominado “lulismo”, descrito pelo cientista político e professor da USP, André Singer.

Porém, segundo Singer, o cenário muda à medida que a renda sobe. Entre aqueles que ganham entre dois e cinco salários mínimos, o apoio ao governo despenca de 46% para cerca de 27%. Essa discrepância revela os desafios enfrentados pelo Partido dos Trabalhadores (PT) em dialogar com a classe trabalhadora em ascensão, impactada por transformações no mercado de trabalho e pelo aumento do custo de vida.

Mudanças no capitalismo e seus efeitos na base social

De acordo com Singer, mudanças recentes no capitalismo global e local desestabilizaram as relações trabalhistas. A desindustrialização e a emergência de formas precárias de emprego, como o trabalho por aplicativos, fragmentaram a classe trabalhadora tradicional.

Esse cenário cria condições favoráveis para discursos de extrema direita, que frequentemente pregam a eliminação do Estado e promovem ideologias de autossuficiência individual.

Custos de vida elevados e insatisfação crescente

Singer também aponta o custo de vida como um fator crítico na insatisfação das classes trabalhadoras. “O aumento global nos preços de combustíveis e produtos essenciais, impulsionado pela desorganização das cadeias produtivas, afeta de forma desproporcional os brasileiros de baixa e média renda”, destaca.

O papel do PT e suas limitações

A crise do “Pix”, com rumores de tributação de transações e aumento da fiscalização, ilustra as dificuldades do governo em se comunicar eficazmente com o setor informal da economia. Singer sugere que o partido precisa adaptar suas políticas para atrair trabalhadores de renda média, mas sem abandonar princípios históricos.

A proposta de isenção do Imposto de Renda para rendas de até R$ 5 mil mensais, por exemplo, é vista como um passo na direção correta. Contudo, o PT enfrenta resistências internas e externas, sobretudo em um Congresso majoritariamente conservador.

Cenário para 2026 e os desafios da extrema direita

A extrema direita, que ganhou força em eleições recentes, encontra-se dividida após a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro. Sem um líder claro, enfrenta dificuldades para se reorganizar. Mesmo assim, André Singer alerta para o apelo persistente desse segmento, impulsionado por lideranças como Pablo Marçal e outros outsiders políticos.

Por outro lado, o PT deve lidar com o desafio da sucessão de Lula, um líder carismático cuja ausência criará um vácuo na liderança partidária. Singer acredita que o partido precisará equilibrar alianças táticas com a necessidade de manter sua identidade histórica e ideológica.

Imagem: BBC

Conclusão

O futuro político do Brasil dependerá da capacidade do PT de responder às demandas de uma classe trabalhadora transformada, enquanto enfrenta uma oposição conservadora em reorganização. Para André Singer, o lulismo ainda é um pilar sólido, mas novos desafios exigem uma adaptação cuidadosa sem perder de vista os princípios que definem o partido.

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